O corpo humano é composto por 70% de água, líquido que desempenha um papel de regulação no organismo: controla a temperatura, absorve e transporta os nutrientes necessários à vida e ainda elimina toxinas por meio do suor e da urina. Mas para que tudo isso aconteça cotidianamente, é preciso que a água que bebemos seja potável, livre de patógenos e substâncias prejudiciais à saúde. Além de manter o corpo saudável, esse elemento é imprescindível para a vida humana de outras formas: a simples ação de lavar as mãos com água e sabão, por exemplo, foi essencial para o desenvolvimento da antissepsia que temos hoje.

Não ter um alto padrão de qualidade da água é um grande problema para populações do mundo todo. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), 420 mil pessoas morrem todos os anos ao redor do mundo em decorrência de doenças de transmissão hídrica e alimentar (DTHA). Essas enfermidades decorrem do consumo, contato e manipulação de água e alimentos contaminados e impróprios para o uso humano — a OMS destaca que cerca de 1,5 bilhão de pessoas não possuem água encanada e saneamento básico adequado. Para alavancar a discussão sobre uso consciente dos recursos hídricos e melhorar esse quadro, a Organização das Nações Unidas (ONU) instituiu, em 22 de março de 1992, o Dia Mundial da Água.

Uma descoberta que mudou a história

OMS: 1,5 bilhão de pessoas no mundo não possuem água encanada e saneamento básico adequado

Utilizar a água conscientemente, como a data comemorativa propõe, trouxe mudanças significativas para a ciência e para o mundo. Na década de 1840, quando ainda não se sabia sobre a existência de germes, o médico húngaro Ignaz Semmelweiss demonstrou por meio de um experimento como o simples ato de lavar as mãos poderia reduzir drasticamente as mortes por infecção pós-parto no Hospital Geral de Viena, lugar em que trabalhava

Naquele período, os mesmos médicos que faziam autópsias em cadáveres realizavam partos, e trocavam de atividade sem lavar as mãos ou esterilizar seus instrumentos de trabalho. Ignaz notou que as grávidas atendidas por parteiras em salas separadas, e não por esses médicos com múltiplas funções, não desenvolviam as infecções, sobretudo a febre puerperal. Foi esse detalhe que o ajudou a relacionar os casos à falta de higiene das mãos.

As iniciativas do médico não foram muito bem aceitas por seus pares naquele momento, mas anos mais tarde a higienização das mãos com água e sabão se tornou prática corriqueira para matar microrganismos.

Recentemente, com a pandemia de Covid-19, a importância dos cuidados para evitar a proliferação de germes voltaram a ganhar relevância. “O gesto de lavar as mãos, tão simples e cotidiano, ganha um valor incalculável por ser uma das soluções mais eficazes para evitar o contágio não só pelo vírus SARS-CoV-2, como também evitar uma série de outras doenças infecciosas causadas por agentes invisíveis”, resume a bióloga e coordenadora cultural do Museu de Microbiologia, Glaucia Colli Inglez.

Ela explica que a lavagem das mãos com água e sabão, que não leva mais do que 20 segundos, elimina, além da sujeira, vírus e bactérias. No caso do coronavírus, o sabão atua destruindo a camada de gordura e proteína que compõe o envoltório do vírus, fazendo com que ele perca seu poder de infecciosidade. As moléculas de sabão na água se conectam ao envelope de lipídio e o destroem, possibilitando que as partículas virais sejam levadas pela água.

Água de qualidade para combater doenças

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Lavagem de mãos: elimina, além da sujeira, vírus e bactérias

Existem muitas outras doenças que podem ser evitadas por meio da ingestão de água potável, boa higiene pessoal e saneamento básico de qualidade. A febre tifoide, causada pela bactéria Salmonella typhi; a cólera, causada pela toxina da bactéria Vibrio cholerae; a disenteria bacteriana, originária da bactéria Shigella; a giardíase, provocada pelo protozoário Giardia lamblia; e a amebíase, causada pela Entamoeba histolytica são algumas delas. A hepatite A, que é uma doença de origem viral, também se propaga por meio do consumo de água ou alimentos contaminados, já que a principal via de contágio é fecal-oral. Outras medidas para reduzir e controlar patógenos de veiculação hídrica, como esses, são a limpeza urbana e o tratamento de esgoto.

O Ministério da Saúde dispõe de material de apoio relacionado à vigilância e controle de qualidade da água para profissionais da saúde. No Instituto Butantan, pesquisadores estudam novas tecnologias de monitoramento aquático, com o desenvolvimento de modelos alternativos que indicam toxicidade em afluentes. Um exemplo é o uso do peixe-zebra, também conhecido como paulistinha ou zebrafish, para indicar alterações químicas na água, graças à sua pele transparente, reprodução e amadurecimento acelerado, absorção de água durante a fase larval e fácil identificação visual de anomalias corporais.

“A água tem de ser tratada como um recurso valioso e escasso. A informação e a educação da população sobre esse tema e o uso da tecnologia têm um papel fundamental na promoção do uso sustentável desse recurso. É aqui que a ciência entra”, finaliza Glaucia.

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Fonte: Governo do Estado de São Paulo