“Somos trabalhadores em tempo integral. A nossa vida é a arte e a arte é a nossa vida”. A frase do diretor do grupo de teatro de bonecos Giramundo, Marcos Malafaia Figueiredo, descreve como artistas e produção cultural se relacionam. Entrega celebrada neste 19 de agosto, Dia do Artista de Teatro.

“Essa data é muito potente porque nasce junto com a Lei 6533/78 [regulamenta as profissões de artistas e de técnico em espetáculos de diversões]. Para a Fundação Nacional de Artes é uma data especialíssima”, valoriza o diretor de Artes Cênicas da Funarte, Rui Moreira dos Santos. É ele quem conta sobre o cenário das ações previstas para o setor.

Rui relembra o lançamento do Programa Retomada, que contempla o teatro, a dança e o circo. “Os artistas de teatro sofreram muito com a pandemia e o lançamento de editais busca facilitar a empregabilidade deles. Temos também programas de bolsa para mestres e mestras, bolsas de mobilidade artística e nossa meta é fazer com que os artistas circulem nacional e internacionalmente. Pensamos ações continuadas e, também, programas para manutenção de espaços”, afirma.

Tereza Padilha, criadora e gestora do Cia Mapati, de Brasília, na capital federal, reconhece o trabalho do MinC ao longo desses oito primeiros meses de reconstrução. Revelando-se “encantada” com a gestão de políticas públicas culturais no Brasil, ela reforça o coro com Rui sobre a importância da valorização dos mestres e mestras, que repassam “sabedoria e conhecimento”. Tereza destaca ser grande o custo para se fazer um espetáculo e, por isso, subsídio e incentivo públicos são necessários, que o diga o grupo idealizado há mais de 30 anos, em 1990.

“Nunca havíamos experimentado tamanho poder de destruição, desarticulação, desmobilização de forma tão vasta e profunda como experimentamos nos últimos anos. Os grupos foram surpreendidos por um novo cenário: as leis de fomento simplesmente pararam de funcionar”, lamenta o dirigente do Grupo Giramundo.

A perspectiva atual, entretanto, é positiva. “Encaramos com otimismo por vários motivos. Primeiro, a interlocução voltou. A falta de diálogo nos desesperava. A volta do MinC traz esperança e esperança é um sentimento bom, ainda mais no campo artístico”, confessa Marcos. Ele comemora um “legado moral” de 50 anos do grupo de teatro de bonecos da capital de Minas Gerais.

“É preciso lutar para que a arte seja preservada para alimentar novas gerações, traduzindo princípios éticos e morais mais elevados. A arte sempre teve essa função ao longo da história: ser uma experiência social que deixa um aprendizado, que melhora a convivência entre as pessoas. A arte representa valores humanos, humanitários e humanísticos”, poetiza.

Foto: Marcos Malafaia/Giramundo

Dificuldades e profissionalização

O diretor de Artes Cênicas da Funarte ainda ressalta a importância de se desenvolver as artes cênicas nas ruas, nos espaços públicos. “O teatro é uma grande potência que se mescla com a educação, mas precisamos lidar com preconceito em relação à profissionalização”, ressalta, emendando que o combate ao estigma envolvendo esse fazedor de cultura passa pela capacitação e uma política pública para alcançar a todos, em todas as regiões do país.

“Buscamos e lançamos não apenas mecanismos como editais. Buscamos também facilitar a linguagem desses mecanismos e a participação dos artistas na construção de políticas públicas”, destaca.

Atriz e contadora de histórias de Caraguatatuba, litoral Norte de São Paulo, Rita Brugnerotti é um exemplo do que revela o diretor da Funarte. “A vida do artista no Brasil não é fácil. Precisamos matar um leão por dia. Muitas vezes não somos valorizados e trabalhamos de forma voluntária”. “Como gestor, sei das dificuldades e necessidades de estimular os artistas para que tenha uma carreira longeva”, diz Rui Moreira dos Santos.

Carlos Fontinelle, diretor de marketing e benefícios do Sindicato dos Profissionais de Dança do Rio de Janeiro, diz estar feliz pela ampliação do diálogo com o MinC e pelas ações em busca do apoio à profissionalização da dança no Brasil. “A dança, em suas múltiplas vertentes, desempenha um papel essencial na expressão artística e cultural no país, representando sua identidade e diversidade cultural. Ao reconhecer a importância dela como forma de arte e profissão, a Lei Paulo Gustavo cria oportunidades para aprimorar o desenvolvimento e a valorização dos profissionais nessa área”, diz, referindo-se à recente lei cultural.

Carlos celebra programas de capacitação, bolsas de estudo, residências artísticas e intercâmbios culturais, pois criam-se oportunidades de acesso e aprimoramento. “Essas oportunidades não apenas irão fortalecer a carreira dos profissionais, mas também contribuir para o desenvolvimento cultural e econômico do Brasil”, assinala.

O diretor-executivo e fundador da Companhia de Dança Deborah Colker, João Elias, reforça a importância da formação e da capacitação. Defende a circulação de espetáculos em todo país, apesar de lamentar a falta de estrutura em muitos lugares.

A preocupação da companhia e da artista que a inspirou, assim como a de João Elias, é trabalhar a função social da dança, democratizando acesso em parceria com Organizações Não Governamentais (ONGs) e escolas, sejam elas de formação básica ou de ensino superior. “Temos que ver a arte do Brasil como um todo. Temos 14 bailarinos e apenas três são do Rio”, destaca para levantar a valorização da arte que alia talento e trabalho de aprimoramento com técnica, de norte a sul.

Foto: Nina Quintana/Cia Mapati

Ações

Lançado no final de julho, o Circula Funarte: Política para as Artes em Diálogo é um dos programas do MinC cujo objetivo é promover e debater ações de fomento da cultura em todas as regiões brasileiras. Por meio da Lei Paulo Gustavo (LPG), gestores culturais de todo país se organizaram em comitês estaduais, protagonizando investimento histórico com alcance recorde: 98% das cidades brasileiras estão aptas a receber o recurso total de R$ 3,8 bilhões.

Lançado no início de agosto, o Prêmio Funarte Mestras e Mestres das Artes tem investimento total de R$ 1,6 milhão e contemplará 16 projetos com R$ 100 mil cada. No programa, a instituição busca destacar e prestigiar a trajetória de pessoas que detenham notório conhecimento na atividade, e que atuem como referência nas áreas de artes visuais, circo, dança, música, teatro ou artes integradas – manifestações que associam mais de uma dessas linguagens.

Em julho, a Funarte lançou o Bolsa Funarte de Mobilidade Artística. No programa, serão investidos R$ 2,4 milhões em bolsas culturais, distribuídos em dois módulos financeiros de R$ 1,2 milhão cada.

Outras áreas de ocupação de palcos envolvem teatro, dança, música, circo. Atualmente, existem mais de 10 ações de retomada via Funarte, incluindo os fundos de apoios para as Artes Cênicas e Música Ibero-americanas. Para reconstruir a Política Nacional das Artes, serão investidos mais de R$ 100 milhões. Confira os editais lançados aqui (https://www.gov.br/funarte/pt-br/editais-1/2023).

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Fonte: Ministério da Cultura