O segundo dia do XIV Seminário Internacional de Políticas Culturais, realizado na Fundação Casa de Rui Barbosa (FCRB) nesta terça-feira (1), foi marcado pela apresentação de trabalhos acadêmicos e artigos referentes a temas centrais para o setor cultural, como os saberes tradicionais e populares – abordados em quatro mesas de comunicação. Em um dos espaços de debate, o diretor de Culturas Tradicionais e Populares do Ministério da Cultura (MinC), Tião Soares, apresentou as ações do Governo Federal para o setor, entre elas a construção da Politica Nacional para as Culturas Tradicionais e Populares, que ocorre no âmbito de um Grupo de Trabalho e com ampla participação social.

Tião destacou a importância dos modos de vida e dos conhecimentos ancestrais para a identidade nacional, reforçando o potencial dessas expressões como catalisadoras de mudança em comunidades vulnerabilizadas. Falou ainda sobre o avanço do país no reconhecimento dessas manifestações e das políticas direcionadas ao segmento.

“É fundamental que continuemos a avançar na implementação de políticas culturais que não apenas financiem, mas que também respeitem e valorizem as culturas tradicionais e populares”, explicou. E completou: “o futuro da cultura brasileira depende do reconhecimento e da valorização de suas múltiplas expressões, promovendo um legado cultural que seja inclusivo, sustentável e que celebre a riqueza da diversidade que caracteriza o nosso país”.

O representante do MinC dividiu a mesa com a apresentação de trabalhos sobre o carimbó, o cordel, a puxada do mastro e as letras decorativas feitas nos barcos da Amazônia. Em síntese, os participantes apontaram alguns desafios para a promoção e proteção dos conhecimentos e das práticas das mestras e mestres das culturas tradicionais e populares.

A pesquisadora Amanda Rabelo trouxe uma discussão sobre o direito de imagem e apropriação cultural no contexto do Carimbó, uma expressão cultural típica do Pará. O artigo partiu da análise de um caso concreto da Mestra Lu Bailarina, que teve sua imagem utilizada em uma campanha publicitária sem autorização.

“É preciso reconhecer quando violamos os direitos de imagem de um mestre não estamos apenas usando fotografias. Estamos rompendo um elo sagrado de transmissão de saberes.É uma violência simbólica. É uma forma de apagamento. Desejo que saímos desse encontro não apenas mais informados, mas com um senso de responsabilidade de entender que a cultura popular é o chão que a gente vive, é de onde a gente vem. Então, é muito importante que a gente continue salvaguardando as nossas culturas populares”, afirmou Amanda.

Outro projeto apresentado foi o do Instituto Letras que Flutuam, uma associação sem fins lucrativos fundada a partir de pesquisas e ações em parceria com os abridores de letras de barcos da Amazônia, destacando a trajetória dos mestres que, com tinta, traços e ancestralidade, colorem os rios da Amazônia.

“Precisamos de um arcabouço não só de políticas públicas, mas legal para proteção dos direitos dos saberes populares porque é uma questão não só dos dententores de saberes, mas de autoria. Eu sou a área do design e escuto eu encontrei uma letra popular e não tinha autor. Como não? Surgiu de geração espontânea? Alguém pintou! Então, essa naturalização precisa ser mudada de que não é ninguém eu posso pegar e usar no meu trabalho e usar na propaganda”, defendeu a diretora do Instituto, Fernanda Martins.

Já a cordelista Onã Silva compartilhou sua experiência com a iniciativa que utiliza o cordel para contar biografias de importantes personalidades do país, entre eles Paulo Freire e Darcy Ribeiro. Por fim, o pesquisador Luiz Felipe Mendes destacou o projeto sobre a Puxada de Mastro, uma manifestação tradicional na cidade de Ilhéus, na Bahia.

Sobre o evento
O XIV Seminário Internacional de Políticas Culturais foi aberto nessa segunda-feira (30), com a participação da ministra Margareth Menezes, para debater os rumos das políticas culturais no Brasil e na América Latina. A programação segue até 4 de julho, reunindo pesquisadores, gestores, representantes da sociedade civil e convidados internacionais.

O evento é uma realização da Fundação Casa de Rui Barbosa, instituição vinculada ao Ministério da Cultura (MinC), em parceria com a Cátedra Unesco de Políticas Culturais e Gestão. Esta edição conta também com a parceria do Programa IberCultura Viva.



Fonte: Ministério da Cultura