Em meio às cicatrizes das enchentes que atingiram o Rio Grande do Sul, artistas e fazedores de cultura se apoiaram em oportunidades para se reerguer diante da situação e continuar espalhando arte pelas terrinhas gaúchas. É o caso do Circo Bonaldo D’Itália e o Bando de Brincantes, projetos que ganharam força com a Bolsa Funarte de Apoio a Ações Artísticas Continuadas 2024, que garantiu a retomada das apresentações.

A Bolsa Funarte de Apoio a Ações Artísticas Continuadas 2024 faz parte do Programa Retomada Cultural RS, criado para auxiliar a recuperação de grupos, coletivos, espaços e eventos artísticos em 95 municípios do Rio Grande do Sul, afetados pelo estado de calamidade pública.

Com um investimento de R$ 30 mil por projeto, a iniciativa busca impulsionar a retomada de atividades culturais, reforçando a importância da cultura como ferramenta de reconstrução social e emocional em regiões devastadas. A primeira leva de pagamentos já foi realizada, beneficiando iniciativas que, como o Circo Bonaldo, com o projeto Sorria, o Circo é Alegria e o Bando de Brincantes, com A desconhecida lenda do maculelê, transformam a adversidade em arte.

Consuelo Vallandro Barbo, diretora do Circo Bonaldo, relembra o impacto devastador das águas, que danificaram equipamentos essenciais, como o sistema de som e luz. Porém, em vez de desistir, a trupe encontrou forças na resiliência própria do circo.

“O circo é uma arte milenar, que resiste e se reinventa. Para nós, não se trata apenas de ganhar a vida, mas de manter uma forma de existir e levar alegria onde ela mais precisa estar”, destaca Consuelo, que vê na arte circense uma ferramenta fundamental para a reconstrução emocional das comunidades atingidas.

As famílias do bairro Humaitá, em Porto Alegre, um dos mais afetados pela calamidade, serão diretamente beneficiadas pelas apresentações, complementa Consuelo. “Estamos preparando um espetáculo especial, que não só trará entretenimento, mas também uma dose de esperança para essas famílias”, disse.

Arte e ancestralidade

Outro exemplo de resistência cultural vem do Bando de Brincantes, coletivo de arte majoritariamente negro, dirigido por Viviane Rosa Junguero Martins. O projeto A Desconhecida Lenda do Maculelê celebra a riqueza da cultura afro-brasileira, misturando teatro, dança e tradição em uma obra que visa empoderar crianças e jovens negros, oferecendo-lhes a oportunidade de se verem representados no palco.

“A bolsa representa um alívio imenso em tempos tão difíceis. Nos ajuda a manter o nosso espaço de ensaio, seguir com as apresentações e continuar desenvolvendo nossas pesquisas sobre inclusão e acessibilidade no teatro infantil”, comenta Viviane.

A conexão do Bando de Brincantes com a cultura quilombola e afro-brasileira ganha ainda mais força em tempos de crise.

“O teatro, para nós, é muito mais do que entretenimento. Ele é uma ferramenta poderosa de construção de identidade, pertencimento e projeção de futuros possíveis para essas comunidades”, explica a diretora.

A ação da Funarte, por meio da Bolsa Retomada Cultural, não só impulsiona esses grupos, como também simplifica o processo burocrático para permitir que os artistas se concentrem em suas criações. Essa desburocratização foi um dos pontos elogiados por Viviane, que reconhece o esforço da Funarte em agilizar e facilitar o acesso aos recursos.

“Artistas são, muitas vezes, produtores de si mesmos. Editais complexos demais acabam penalizando quem mais precisa. Desburocratizar é essencial para garantir que a arte chegue onde ela é mais necessária”, reflete.

A presidenta da Funarte, Maria Marighella, também destacou a importância do edital para a retomada cultural.

“Essa é uma ação inaugural em âmbito nacional e uma demanda dos próprios setores das artes, da sociedade civil e um compromisso nosso fundamental com a continuidade de grupos e coletivos, espaços, festivais e atividades tão necessárias e urgentes. Com estímulo a iniciativas de caráter permanente, pretendemos fomentar ambientes dinamizadores da cena artística brasileira e seus ciclos de criação, produção, circulação, formação, difusão e fruição de bens e serviços culturais, formando em todo o país um conjunto de iniciativas estruturantes da rede produtiva das artes”, destacou a presidenta Maria Marighella.

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Fonte: Ministério da Cultura