Um momento de resgatar os saberes ancestrais, encontrar parentes de aldeias distantes, celebrar as raízes de seu povo e reforçar a cultura duramente protegida por séculos. Ritual que tem preparação de dias de caçada para garantir o alimento de todos os convidados, o Festival Cultural Berê Xikrin Kwyrykango acontece há séculos na região próxima a Altamira e Anapu, no Pará, onde vive a etnia Xikrin da Terra Indígena Bacajá. Mas este ano, no início de abril, teve a estrutura garantida por incentivo fiscal via Programa Nacional de Apoio à Cultura (Pronac) – Lei Rouanet pela primeira vez. E deixou registros de um povo que celebra a arte, a natureza e a vida com orgulho.

Dias antes do início do festival, anciãos e jovens saem à mata para caçar o alimento dos convidados

O nome do festival ‘kwyrykangô’ tem origem Juruna e significa festa da mandioca. Tradicionalmente os Xikrin dançam e cantam por vários dias como rito de fertilização do solo para o plantio da semente do tubérculo e para homenagear a fertilidade das mulheres. Ao longo de três dias, os convidados de 16 aldeias fizeram apresentações de dança, canto, pintura corporal e grafismos, expõem artefatos, biojóias e outros produtos artesanais feitos pelas mulheres da etnia. Também foram feitas oficinas em que os mais experientes ensinassem os jovens e outros convidados sobre cada tipo de arte.

 

Antes do início da festa, 30 homens (memure), entre caçadores e guerreiros anciãos (kubenête) e jovens (menonûre), passaram cinco dias na floresta à caça do alimento para suprir os participantes do festival. No percurso, a maior importância é da transmissão de conhecimentos, possível apenas pela convivência com os mais velhos e sábios. O que é capturado chega nas costas dos caçadores, que são recepcionados com cânticos e danças de comemoração. Três crianças aniversariantes são escolhidas para representar a homenagem e suas famílias se encarregam de organizar a aldeia e preparar os banquetes.

De acordo com a coordenadora de comunicação do projeto, Joseane Nogueira, este ano os guerreiros anciãos relataram que o resultado da caçada diminuiu drasticamente, prejudicando o alimento dos convidados. “Tanto a pesca, como a caça estão mais escassos a cada ano. Registros de festivais de alguns anos antes realmente mostram que havia uma maior fartura dos alimentos para o festival”, contou.

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As mulheres xikrin são responsáveis pelos grafismos e pinturas no corpo

Com a escassez, integrantes da Associação Indígena Berê Xikrin da TI Bacajá, que organiza o festival, destacam que somente com os recursos captados com os patrocinadores Equatorial Energia e Banco Itaú por meio da Lei Rouanet foi possível este ano garantir a alimentação e os demais itens necessários para a realização do evento para cerca de 300 pessoas. “O metore (festival) Kwyrykangô tem uma importância muito grande para nós, os Xikrin da Trinxeira Bacajá, e receber esse apoio ajuda no fortalecimento do festival, na união das aldeias Xikrin, na proteção da nossa cultura e do nosso modo de viver”, reforçou o cacique Bep Kamati Xikrin, coordenador geral do projeto.

Organização

criança xikrin
.Todo ano crianças são escolhidas para representar a homenagem às raízes

Com a aprovação no Pronac, a Associação captou recursos para custear a logística, o transporte, a confecção de vestimentas, a contratação de equipes de coordenação e apoio técnicos, a aquisição ou aluguel de equipamentos e a alimentação de equipe e dos participantes convidados do festival.

O grupo relata que a execução começou meses antes, com reuniões entre as lideranças da aldeia, que definiram quem iria puxar os cantos e as danças, como seriam os alojamentos, banheiros e transporte para receber os convidados de outras aldeias e quais materiais seriam necessários para a confecção de artesanatos. “Essa preparação já se caracteriza como um ritual, eles buscam seus conhecimentos ancestrais para fazerem com que o evento seja preparado”, relata Joseane.

Com os registros do festival, será produzido um documentário que ficará disponível gratuitamente nas plataformas de streaming e deve ser lançado até o fim do ano. “Nossa intenção é divulgar esses costumes e valorizar o povo indígena, dando visibilidade em todo território nacional para manter a ancestralidade e tradição de uma ação cultural importantíssima para esse povo”, destacou a coordenadora de comunicação. “Esperamos que a arte originária continue ganhando e mantendo seu espaço de direito na cultura nacional brasileira”.

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Fonte: Ministério da Cultura