O painel “É tudo pra ontem: a criação literária de Conceição Evaristo e Emicida”, parte da programação da 32ª Feira Internacional do Livro de Havana (FILH), discutiu a ancestralidade e a riqueza das culturas populares na Literatura brasileira. Fabiano Piúba, secretário do Livro e Leitura do Ministério da Cultura (MinC), mediou o debate realizado na tarde deste sábado (17) na capital cubana.

A escritora mineira Conceição Evaristo compartilhou passagens da própria infância para pontuar questões de gênero e etnia. Recém-eleita imortal da Academia Mineira de Letras, ela provocou os expectadores sobre o conceito de utopia e como ele exerce importante função na vazão criativa e na construção da identidade nacional de um país. “Rap, literatura, samba, as criações populares, são o lugar onde se cria a utopia. Carnaval é um espaço onde se cria utopia. A utopia não nasce. Eu até ousaria dizer que, no campo acadêmico, é muito fácil criar utopias vazias, talvez quem crie ‘a’ utopia é o povo”.

“Antes de criar teorias, nós criamos práticas”, completou o rapper e escrito Emicida. Autor de “E foi assim que Eu e a Escuridão Ficamos Amigas” e “Amoras”, obras voltadas ao público infantil, o músico destacou a importância das novas gerações na produção e, também, no consumo de literatura. “Precisamos nos concentrar nos porquês, e me parece que os livros são um acervo infinito de porquês.”

Fabiano Piúba, mediador do painel, destacou a diversidade cultural expressa na programação. “O tema ‘É tudo pra ontem’, título de uma canção de Emicida, foi um belo pretexto para uma conversa encruzilhada de tempos ancestrais, do agora e do futuro. Foi um encontro de beleza e encantamento, de força e de luta, de poesia e de política. Fomos tomados pela emoção desse encontro, ao tempo em que mobilizados pela força das palavras de ambos. Foi uma grande oportunidade para difusão e promoção da literatura e das artes do Brasil no exterior, em especial em Cuba, onde o Brasil é o país convidado da Feira do Livro de Havana”.

“O público cubano e brasileiro pode compartilhar impressões sobre a leitura e a literatura com dois dos maiores artistas e escritores do país. É muito tocante ver a sensibilização e o forte senso coletivo sobre a potência transformadora da leitura em toda a programação da Feira. Esse foi o espírito dessa mesa e outras que aconteceram nos dois últimos dias”, avaliou a coordenadora-geral de Livro e Literatura do MinC, Andressa Marques, que também compôs o painel.

Para a ministra da Cultura, Margareth Menezes, além da felicidade em ser, pela segunda vez, o país convidado de honra do evento, a participação expressiva de autores brasileiros tem outra importante função. “O retorno do Brasil às suas relações internacionais tem essa intenção, de promover e fortalecer mais ações com países amigos e Cuba sempre foi um país com colaborações fortes com a nossa cultura e o nosso povo”.

Memorando

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No final da tarde, Brasil e Cuba assinaram um memorando de cooperação entre suas bibliotecas nacionais para troca de experiências nos campos de acervo, repertório e memória.

“A Biblioteca Nacional no Brasil tem uma grande experiência na conservação e preservação de obras. Ela pode estabelecer com Cuba essa troca de experiência, que é algo que já estamos fazendo com os países africanos de língua portuguesa”, explicou o presidente da Fundação Biblioteca Nacional (FBN), Marco Lucchesi. E seguiu: “É uma oportunidade de aproximação entre dois países, duas culturas, duas tradições, que se conhecem e precisam aprofundar esse conhecimento, que é praticado há muito tempo”, reforçou.

Já o presidente da Biblioteca Nacional de Cuba José Martí (BNCJM), Omar Valiño Cedré, ressaltou a satisfação em consolidar os laços com o Brasil. “É uma felicidade ter essa feira brasileira em Cuba, essa luz compartilhada entre Brasil e Cuba num momento tão sombrio em todo o mundo. Investir em feiras do livro, assim como investir em bibliotecas, é investir em conhecimento”, disse.

Delegação

Além de Conceição e Emicida, outros 13 escritores integram a delegação do MinC na Feira, que reúne mais de 40 países. São eles: Ailton Krenak, Eliana Alves Cruz, Elisa Lucinda, Frei Betto, Jarid Arraes, Jeferson Tenório, Marcelo D’ Salete, Márcia Kambeba, Cidinha da Silva, Graça Graúna, Otávio Júnior, Socorro Acioly e Patricia Melo – todos escolhidos (as) por meio da curadoria tripartite composta por integrantes do Ministério, da FBN e o Instituto Guimarães Rosa (IGR), unidade vinculada ao Ministério das Relações Exteriores (MRE).

Os quadrinistas brasileiros Ana Luiza de Souza Freitas, Gidalti Oliveira Moura Júnior, Alcimar Mendes Frazão, João Carlos Pires Pinheiro, Sirlene Francisco Barbosa e a curadora da Bienal de Quadrinhos de Curitiba, Luciana Falcon Anselmi completam a delegação.

Com o tema “Ler é construir identidade”, a FILH 2024 se consolida como um ambiente de intercâmbio cultural, colocando a literatura como principal ferramenta para a troca de conhecimento entre Cuba-Brasil.

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Fonte: Ministério da Cultura