Um corpo inclina-se com esforço para alcançar os próprios pés. Os dedos tentam, com dificuldade, amarrar os cadarços. A tarefa que antes era automática, hoje exige concentração, equilíbrio, paciência e coragem. Entre o levantar da cama e o abrir da porta, há um campo minado de inseguranças que só quem já sentiu o mundo encolher ao redor entende. São pequenos gestos, porém grandes conquistas.
Para muitos idosos, pequenos gestos são hoje grandes desafios. E quando o corpo hesita, a liberdade também se encolhe. Atos simples como calçar os sapatos ou abrir uma janela se transformam em obstáculos que minam a autonomia e apagam o brilho do cotidiano.
É nesse território invisível que meu trabalho começa. Sou fisioterapeuta especializado em reabilitação e movimento na terceira idade. Quando um paciente me procura, geralmente não está apenas em busca de alívio para uma dor. Ele quer, na verdade, voltar a viver o próprio dia com confiança. Voltar a caminhar até a padaria, a se vestir sozinho, a tomar banho sem medo de cair.
Pensando nessas limitações que baseio o meu trabalho em escutar seus desejos e seus objetivos. Cada história traz nuances que não cabem em protocolos prontos. Eu observo, pergunto, compreendo. Cada paciente tem um ritmo, um limite, uma história de vida que precisa ser respeitada e quase nunca é ouvida.
No Brasil, segundo o IBGE, já somos mais de 32 milhões de pessoas com 60 anos ou mais. E esse número deve dobrar nas próximas duas décadas. Ao mesmo tempo, crescem os índices de quedas, fraturas e internações relacionadas à perda de mobilidade e ao enfraquecimento muscular. Mas o que muitas vezes não se enxerga é o impacto emocional dessa fragilidade. A dependência rouba mais do que movimento. Ela afeta o humor, o sono, a autoestima. Em muitos casos, leva à depressão. Por isso, minha missão vai além de ajudar o corpo a se movimentar. É ajudar a mente a acreditar de novo.
Desenvolvo protocolos personalizados que acompanham o ritmo de cada um. Às vezes, o primeiro passo é se levantar do sofá sem ajuda. Em outras, é voltar a preparar o próprio café da manhã. São conquistas silenciosas, mas profundas. Cada avanço, por menor que pareça, é uma retomada de poder. E não falo apenas de força física, mas de algo simbólico. A pessoa se reconecta com quem é, com sua história, com o lugar que ocupa dentro de casa.
Meu trabalho não se resume a alongamentos ou correções posturais. Envolve empatia, paciência, presença. Envelhecer não precisa ser sinônimo de passividade. Com acompanhamento adequado, muitos dos meus pacientes voltam a se movimentar, a subir escadas, a caminhar e, principalmente, a confiar em si mesmos.
Costumo dizer que meu trabalho é devolver rotina, a autonomia e não apenas movimentos. E, ao fim de cada atendimento, o gesto pode até ser lento, mas já não é mais temeroso. E isso muda tudo.
Alexandre Peres é fisioterapeuta especializado na saúde do idoso, com formação pelo Instituto Municipal de Ensino Superior de Catanduva (IMES-SP) e atuação no Brasil e na Austrália. Com mais de duas décadas de experiência clínica, desenvolveu uma abordagem integrativa e personalizada, especialmente voltada para pacientes com comorbidades complexas e limitações funcionais.
Na Austrália, onde reside, atua em serviços de cuidado domiciliar com foco em reabilitação geriátrica, aplicando protocolos que aliam técnica, empatia e promoção da autonomia. Sua prática é reconhecida por resultados significativos na melhora da qualidade de vida de idosos, na prevenção de quedas e na redução de internações. Também mantém constante atualização em áreas como fisioterapia respiratória, ortopédica e neurológica, reforçando seu compromisso com tratamentos humanizados e baseados em evidências.