A partir desse dia 1º, entra em vigor em todo o país a Lei do Luto Parental (Lei 15.139/2025), que estabelece uma política nacional de atendimento digno e humanizado a mães e pais que enfrentam a perda de um bebê durante a gestação, no parto ou nos primeiros dias de vida. “A medida é um avanço importante no acolhimento às famílias enlutadas e busca dar visibilidade a um sofrimento ainda silenciado por tabus e desinformação”, comenta o dr. Vamberto Maia Filho, ginecologista especializado em reprodução humana.
Casos de grande repercussão como os da apresentadora Tati Machado, da cantora Lexa e do comediante Whindersson Nunes, que compartilharam publicamente suas perdas, reforçaram a urgência de políticas públicas que amparem emocionalmente quem vive esse tipo de luto, muitas vezes chamado de “luto invisível”.
Acolhimento: mais que técnica, escuta e empatia
Perdas gestacionais, neonatais e repetidas são profundamente dolorosas, não apenas do ponto de vista físico, mas também psicológico e emocional. Segundo o Ministério da Saúde, cerca de 20% das gestações confirmadas resultam em aborto espontâneo, sendo a maioria nas primeiras 12 semanas. Já no caso de perdas neonatais, ou seja, mortes que ocorrem nos primeiros 28 dias de vida do bebê, a taxa no Brasil foi de 8,3 óbitos por mil nascidos vivos em 2022, de acordo com dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM). Apesar de serem mais comuns do que se imagina, ambos os tipos de perda ainda são cercados por tabus e silêncios sociais.
“Muitas mulheres enfrentam luto, ansiedade, depressão, estresse pós-traumático e até dificuldades na sexualidade ou nos relacionamentos”, alerta o Dr. Vamberto.
A Lei do Luto Parental surge como um reforço institucional ao cuidado que deve ser permanente. “O papel do ginecologista e dos profissionais da saúde é também o de escutar e validar a dor desses pacientes. O acolhimento emocional é parte do tratamento”, afirma o médico. “Validar a dor da perda, por menor que pareça, é essencial. É um luto invisível, mas com impactos reais. O papel do médico não é apenas clínico, é também emocional: escutar, acolher, orientar”, finaliza.
Abaixo, o dr. Vamberto lista 5 pilares para um acolhimento sensível.
1. Valide sua dor
“Perder um bebê, mesmo nas primeiras semanas, é uma perda real. Ignorar ou minimizar essa dor só prolonga o sofrimento”, afirma o médico. Muitas mulheres se sentem pressionadas a “superar rápido” ou até ouvem que “era muito cedo para se apegar”. No entanto, a dor da perda perinatal pode gerar sintomas de luto prolongado, como depressão e ansiedade, especialmente se não houver espaço para vivenciar o processo.
2. Procure escuta especializada
O suporte psicológico é fundamental. A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que mulheres em situação de perda gestacional tenham acesso a atendimento psicológico e escuta qualificada. “Grupos de apoio e psicoterapia ajudam a nomear o que se sente, legitimar emoções e ressignificar a dor”, explica Dr. Vamberto.
3. Evite a autossabotagem
“Não se culpe. A maioria das perdas ocorre por causas que fogem completamente ao controle da mulher”, enfatiza o médico. Estudos indicam que em até 50% dos abortos recorrentes, não se identifica uma causa exata. Ou seja, mesmo com todos os exames e cuidados, há casos em que a medicina ainda não tem resposta. Essa ausência de explicação pode gerar culpa, mas é importante entender que não houve erro ou falha pessoal
4. Fortaleça sua rede de apoio
A partilha pode ser um antídoto contra o silêncio. Falar com amigas, familiares ou outras mulheres que passaram por experiências semelhantes ajuda a construir uma rede de segurança emocional. “O isolamento piora o sofrimento. Ter com quem conversar, sem julgamento, é uma das formas mais potentes de cuidado”, orienta o especialista.
5. Recomece no seu tempo
Cada mulher vivencia o luto de maneira única, e os tempos de cura variam. Não existe um cronograma ideal para tentar uma nova gestação, e essa decisão deve considerar aspectos físicos, mas também emocionais. “O momento certo é aquele em que corpo e mente estão alinhados. A pressa ou a pressão externa só aumentam o risco de frustrações”, afirma Dr. Vamberto. Recomenda-se que o próximo passo seja dado com segurança, após orientações médicas e psicológicas.
6. Converse com especialistas de confiança
“A investigação médica é fundamental, mas ela deve vir acompanhada de empatia. O olhar técnico precisa estar a serviço de um atendimento humano”, ressalta o médico. Buscar orientação com ginecologistas especializados em reprodução humana pode fazer toda a diferença. Eles poderão indicar exames genéticos, hormonais e uterinos que identifiquem fatores de risco e proponham condutas mais adequadas.