Por Cris Oliveira
Dessa vez, Ibaneis não mandou representante. Foi pessoalmente. Em 8 de janeiro de 2023, o governador reeleito foi o mais atingido pela crise institucional, sendo afastado do cargo por decisão do STF.
A Praça dos Três Poderes sede do Supremo Tribunal Federal, Congresso Nacional, Palácio do Planalto, Polícia Federal e, claro, dos vaivéns da política nacional voltou a ser palco de tensão e espetáculo nesta sexta-feira (26). O ministro Alexandre de Moraes ordenou a retirada imediata dos bolsonaristas que permaneciam acampados em frente ao STF, exigindo anistia para o ex-presidente Jair Bolsonaro. E não só isso: autorizou a PM a prender qualquer um que insistisse em desafiar a decisão.
Ibaneis Rocha, governador do Distrito Federal, decidiu não correr riscos desta vez. Em vez de delegar, como fez no episódio do 8 de janeiro o que lhe custou o afastamento do cargo e uma crise política que atravessou seu segundo mandato , o emedebista apareceu no local e coordenou pessoalmente a operação de desocupação.
A ordem de Moraes foi clara, direta e inegociável. A Polícia Militar, respaldada pelo GDF e em articulação com a Polícia Federal, agiu rápido para desmontar o acampamento, que já era visto como um núcleo de radicalização e possível foco de novos atos antidemocráticos.
O episódio reacendeu não só os embates entre os Três Poderes, mas também a atuação parlamentar. O deputado federal Hélio Lopes (PL/RJ), alinhado ao bolsonarismo, tem reiterado sua disposição em se manifestar. E tem prerrogativa para isso. Hélio tem mandato, voz ativa e legitimidade no Poder Legislativo. Não existe motivo nem necessidade de se calar. Seu papel é fiscalizar, representar e reagir a qualquer abuso ou excesso, venha de onde vier.
A lembrança do homem-bomba que se explodiu diante do STF ainda assombra a Praça local que, além de cartão-postal da democracia, tem se tornado palco de episódios cada vez mais extremos. A diferença, agora, é que as instituições parecem estar mais coordenadas para evitar um novo colapso.
Enquanto os manifestantes eram removidos sob ordens judiciais, Jair Bolsonaro observava à distância, ainda cercado de aliados e protegido politicamente por setores conservadores dos Estados Unidos, que continuam oferecendo respaldo diplomático e político ao ex-presidente. Ele, embora inelegível, segue como figura central do cenário eleitoral e ameaça simbólica à estabilidade do sistema.
A ação desta sexta, com Ibaneis presente, e a PM em campo, mostra que a novela democrática brasileira segue sem intervalo e que, no final das contas, quando a pimenta arde no próprio “COOL”, o refresco tem gosto de obrigação.
A pegadinha fica no ar: a Praça dos Três Poderes não é, afinal, responsabilidade do Governo Federal também? Quando convém, é federal; quando explode, cai no colo do GDF.
Não se trata de ser de esquerda ou direita, mas de preservar as instituições e evitar repetir o efeito manada que levou o país ao caos em janeiro de 2023. Radicalismo cego não constrói democracia.