Elas equilibram a rotina da casa, os cuidados com os filhos, fazem pedidos, fecham vendas, criam estratégias e gerenciam equipes. Estamos falando das mães empreendedoras — mulheres que, por necessidade ou por desejo de mais autonomia, transformaram os desafios da maternidade em potência criativa e modelo de negócio.
No Brasil, mais de 75% das mulheres empreendedoras também são mães, segundo dados de pesquisas recentes da Rede Mulher Empreendedora. A maioria delas começou a empreender após a maternidade, não por oportunidade, mas por urgência. A dificuldade de conciliar um trabalho tradicional com o cuidado com os filhos, a escassez de empregos formais e a falta de políticas públicas voltadas à maternidade empurraram essas mulheres para o empreendedorismo — e elas reagiram com coragem.
Empreender, para essas mães, é mais do que garantir o sustento: é sobre viver com propósito e gerar valor para sua família e a sociedade. É criar algo que faça sentido para si mesma, que permita estar presente na infância dos filhos e, ao mesmo tempo, mostrar a eles um exemplo de força e superação. Por trás de cada negócio, há uma história de recomeço, de resiliência e, muitas vezes, de cura.
E é justamente esse propósito que as move essas mulheres a seguir, mesmo quando a jornada se torna exaustiva.
Longe dos escritórios formais, essas mulheres conciliam o atendimento ao cliente com o preparo do almoço, a organização de estoques com as tarefas escolares, e a contabilidade com o sono dos filhos. É o famoso “faz tudo”, que exige jogo de cintura, disciplina e muita persistência, além de gerar exaustão emocional e física.
A gestão do tempo, inclusive, é um dos maiores desafios. A rotina é intensa, e a sensação de estar sempre devendo — seja ao negócio ou à maternidade — é comum. Conciliar os papéis sem culpa é um exercício diário, e, muitas vezes, solitário.
Empreender sendo mãe é enfrentar a sobrecarga, a falta de apoio e os julgamentos sociais. Ainda se espera que a mulher seja a principal cuidadora da casa, dos filhos e de toda uma família, mesmo quando ela também é responsável pela renda familiar. Isso exige dessas empreendedoras uma força sobre-humana e, ao mesmo tempo, um olhar gentil para si mesmas.
Por isso, ferramentas de organização, rotinas planejadas e pausas conscientes tornam-se essenciais para manter a saúde física e emocional. E mais, é preciso entender que, apesar de todo o esforço, não é possível dar conta de tudo sozinha. E tudo bem.
Se há algo que fortalece essas mulheres é a rede de apoio, que é um elo indispensável. Seja uma avó que fica com as crianças durante uma reunião, uma amiga que indica clientes ou outra mãe que compartilha aprendizados no grupo de whatsApp — esse apoio mútuo faz toda a diferença e vem crescendo. As comunidades no whatsapp, eventos e rodadas de negócios também são poderosas ferramentas que contribuem para fomento de novas vendas e parcerias.
Hoje, comunidades, feiras, eventos e plataformas digitais dedicadas ao empreendedorismo materno têm ganhado espaço e oferecido suporte prático e emocional. Elas criam um ambiente onde é possível crescer sem culpa, errar sem julgamentos e vencer com apoio.
Investir em mães empreendedoras é mais do que incentivar negócios: é apoiar famílias, movimentar a economia local e fortalecer uma rede de transformação e verdadeiro impacto social.
Quando uma mãe empreende, ela não apenas cria um produto ou serviço. Ela cria liberdade, cria conexão com seus valores e um legado para seus filhos. E, acima de tudo, gera uma nova versão de si mesma: mais forte, mais consciente e dona da própria história.
Em tempos em que o mercado ainda impõe barreiras à presença feminina, especialmente às mães, o empreendedorismo surge como um caminho legítimo e poderoso de reconstrução. Que ele seja, cada vez mais, uma escolha — e não apenas uma necessidade.
Sobre Camila Ribeiro
Camila Ribeiro é psicanalista, terapeuta comportamental, mentora de mulheres e fundadora da Clareia Desenvolvimento Humano
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