Daniel Cardozo
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Recém-inaugurado, embora ainda não esteja 100% concluído, faltando cerca de 3% – segundo estimativas do próprio GDF -, o Estádio Nacional Mané Garrincha não será apenas o mais caro do Brasil. Vai entrar para o ranking dos mais caros do mundo.

A arena brasiliense vai chegar bem próximo do que se gastou para construir a Emirates Arena, em Londres, a casa do Arsenal. Ou do Soccer City, na África, principal estádio da última Copa do Mundo de futebol, e do ANZ Stadium, em Sydney (Austrália), construído para as Olimpíadas com capacidade de 83,5 mil pessoas. O nosso Mané tem 72 mil assentos.

Conforme planilha divulgada pelo Tribunal de Contas do DF (TCDF), o estádio construído na capital federal já consumiu R$ 1,3 bilhão, mais outros R$ 300 milhões estão em fase de licitação. Conforme mostrou o Jornal de Brasília na edição de ontem, o gasto total, incluindo o seu entorno, pode chegar a R$ 1,6 bilhão, o que significa um custo médio de R$ 22 mil para cada um dos assentos. Idealizada inicialmente para consumir R$ 700 milhões, a arena do DF vai bater o dobro do orçamento previsto.

Outras prioridades

Nada disso seria discutível não fosse um pequeno detalhe: a cidade ainda não presta um serviço público de qualidade nas áreas de saúde, educação, segurança e transporte.

Para o especialista em gestão pública José Matias Pereira, a priorização em torno do Estádio Nacional acaba deixando lacunas. Os gastos, de acordo com o professor da Universidade de Brasília (UnB), deveriam ter sido melhor estudados.

Conta

“O contribuinte está sendo chamado para pagar uma conta da qual não foi consultado. No caso de Brasília, com deficiências em várias áreas, o dinheiro está sendo gasto à revelia da população”, diz. “Construir um estádio desse tamanho seria a última coisa que poderia receber investimento, porque não traz retorno. Diferentemente de saúde, segurança e transporte público”, defendeu, ainda, o especialista.

Mobilidade urbana é um problema

E se Brasília tem o melhor e mais caro estádio para as Copas do País, quando se trata de mobilidade urbana a cidade está vários passos atrás das outras cidades-sede. Se não bastassem os desmandos e anos de transporte ruim na capital, os investimentos na área nem se comparam aos de cidades como Belo Horizonte e Porto Alegre.

No portal de Transparência do DF para a Copa de 2014, a única obra de mobilidade listada para Brasília é a ampliação da rodovia DF-047, que liga o Aeroporto JK ao Eixão.

O preço da melhoria, segundo a Secretaria Especial para a Copa do Mundo, é R$ 58 milhões. O GDF se defende, dizendo que o Expresso DF, o BRT, estimado em R$ 530 milhões, também beneficiará a população no que diz respeito a transporte. Por aqui, os investimentos totalizam R$ 633 milhões. Comparado a outras cidades que receberão partidas do Mundial, o número de obras é baixo. É considerada, também, pelo governo, como obra de mobilidade urbana a implementação de ciclovias que ligam a Esplanada à Catedral Rainha da Paz. O principal projeto, entretanto, ficou apenas no papel: trata-se do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT).

Outras cidades

Ao mesmo tempo, Porto Alegre se prepara para receber o Mundial não só com obras no Estádio Beira-Rio. Estão em andamento dez melhorias na mobilidade urbana da cidade. Serão três sistemas de Bus Rapid Transit (BRT), construção de vias, corredores exclusivos de ônibus, uma central de monitoramento e um terminal urbano, no valor de R$ 922 milhões.

Em Belo Horizonte, estão previstas oito obras e R$ 1,4 bilhão de investimento. Estão incluídos três Bus Rapid Transit (BRT), revitalização e ampliação de três vias, uma central de monitoramento de tráfego e corredor exclusivo de ônibus.

Para Curitiba, conhecida como modelo no transporte público, serão gastos R$ 457 milhões. O site oficial da Copa de 2014 aponta a construção do BRTs, melhorias em vias de acesso, uma central de monitoramento de tráfego e aprimoramentos no terminal urbano.

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